quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Meus oito anos


Oh ! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!


Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras,

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!


Como são belos os dias

Do despontar da existência!

Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;


O mar é - lago sereno,

O céu - um manto azulado,

O mundo - um sonho dourado,

A vida - um hino d'amor!


Que auroras, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!


O céu bordado d'estrelas,

A terra de aromas cheia,

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!


Oh ! dias da minha infância!

Oh ! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!


Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha irmã!


Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberta o peito,

Pés descalços, braços nus

Correndo pelas campinas

À roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!


Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;


Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo,

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!


Oh ! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!


Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras,

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!


Casimiro de Abreu

Nenhum comentário:

Postar um comentário